O olho encoberto

Uma praia deserta. Um bosque deserto numa praia deserta. Um deserto vivo pleno de possibilidades de encontro comigo mesma.

Descobertas abertas. Des-coberta. Sem cobertas. Aberta. Despida. Desnuda. Despreocupada. Destravada. Desbloqueada. Destemida. Despudorada. Desinibida.

O sol chega de uma forma nova esquentando prazerosamente, abrindo todos os poros.
Acorda!, parece cutucar.

A água salgada bate no corpo inundando todos os cantos.
Acorda!, parece obrigar.

A brisa marítima sopra em lugares impensáveis, arrepiando num frescor revigorante.
Acorda!, parece sussurrar.

A sombra intermitente das folhas brinca na pele e mucosas mostrando um ritmo alegre.
Acorda!, parece convidar.

Acorda! Abre! Ativa! Brinca! Dança! Permite! Separa as pregas-pálpebras! Cria espaço! Abre o olho sempre encoberto e deixa ele enxergar, respirar, vibrar, desfrutar, viver, se libertar.

Uma energia sutil e intensa sobe pela frente do corpo e pousa no interior da garganta, na raiz da língua, no centro da base da cabeça. Um grito sem voz. O olho abre e enxerga.

 

? Ninesh

?Tallow beach – Arakwal National Park – Australia

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