Foi uma experiência principalmente sonora. De todos os sentidos o menos desenvolvido em mim sempre foi a audição. Incapacidade de entender partituras, diferenciar notas, sacar tons, cantar harmonicamente. O mundo da música sempre me apareceu como um planeta distante e inacessível. Ouvir sempre foi difícil.
Mas La Cordillera me seduziu, me absorveu, me transformou pelos sons. O som da neve sob meus pés, o barulhinho delicioso do degelo e suas águas correndo rapidamente entre as pedras. Um bando enorme de passarinhos sem medo que cantavam incansavelmente, se lançando em revoadas circulares a minha volta para depois retornarem às mesmas pedras que sobressaíam como uma ilha na neve. O som do vento que uivava em rajadas esporádicas. E as vezes lá estava ele: o silêncio ensurdecedor.
Meus ouvidos estavam em êxtase, se lambuzando de tanta beleza, mas ainda teriam mais uma surpresa. Num lugar qualquer inidentificável, irretornável, irrepetível naquela imensidão branca eu o ouvi: o canto da Cordillera. Um som repetitivo, harmonioso, doce, acolhedor e cíclico como as ondas do mar. Um vai e vem como um embalo materno. Absolutamente arrebatador. Sentei e fiquei. O sol aquecendo mansamente. A luz absoluta. Por mim não precisaria levantar nunca mais.
agosto/16
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